joão tovar

 a vida por vezes pega Partidas.                   

uma flor num campo de flores é uma redundância. interessa-me a flor no meio dos escolhos e da sucata. como dizem os especialistas, é uma flor em conflito.

a poesia e os motores de carro não me interessam. o que me interessa é a poesia que se pode tirar dos motores dos carros, ou melhor, a poesia que os motores têm.

perfeita é a noite chuvosa em que os pára brisas afastam a água na exacta mesma cadência momentânea em que as pálpebras varrem outras águas imprevistas da meteorologia da alma

olhos nos olhos o meu amor em ti atreve-se eterno como é que ousas contornar o meu corpo com a tua suavidade como é que ousas preencher a minha fragilidade e o que é mais fundo em mim no teu mar das possibilidades tu és o que não pensas nem acreditas ser quando ferido te magoo envergonho-me até ao fundo de mim o teu medo é o meu medo mas dás-me força para abrir os meus braços e respirar morno na tua pele preguiçosa da madrugada desculpa a inconveniência e a fantasia mas é uma lucidez estranha que nos guia e gentilmente contraria olhos nos olhos vejo-te e beijo-te em segredo (2001)

já tenho saudades do meu ídolo de juventude tenho saudades furiosas de IMAGINAÇÃO, FANTASIA e sim, alguma LOUCURA recuso a ter mais uma década de MERDA com um mundo semi deprimido, perdido e cinzento de materialismo neurótico e de cobardia quase absoluta (onde me incluo) nunca tantos bites de informação corresponderam a tanta solidão e vazio quero divertir-me, fazer e partilhar sim, mas se for contigo. não me importo de sofrer mas se for por ti e me fizer sentir vivo. perdi a rua árabe onde se vive, sofre e até morre, mas nunca aos poucos. deitamos fora o tempo e a sabedoria a dar ares de paladinos do bem e do mal sempre aos outros, os outros e os outros ah traidor de mim mesmo, piegas, narcísico e cobardolas hoje vou dar-te luta mesmo que perca todos os dias o sangue fresco da boca  não me tiras. Agora.