não sei o que te diga quando pões esse olhar de chão e ar ao mesmo tempo
o meu corpo e as minhas palavras riem e mexem-se quando eu não quero
e aperto. dentro.
A câmara circula-nos a mesa e os corpos e talheres sentados enquanto te falo das guerras e dos planetas e das verdades arquitectónicas das emoções e acções, enquanto tu apenas respiras e a minha voz se torna distante, apenas os graves a amaciar-te e proteger-te a pele, tu a perderes o meu olhar e a percorrer o meu pescoço o meu peito o ventre até ao meu sexo que não consegues olhar mas que sentes, os lábios que se vão tornando carnudos e vermelhos enquanto fazes amor comigo dentro, não me deixes apanhar o teu olhar de sexo, querer puxar os teus cabelos e morder os teus lábios. Fodo-te em silêncio. Tu e as outras, não me rocem os seios nas costas e nos braços, não se encostem quentes, não me soprem às orelhas, não me aproximem os lábios enquanto falam, não olhem para os meus lábios, não me telefonem em noites de luar, não me estejam sempre a dizer foda-se e caralho como se fosse casual, não acendam velas, não ponham o ombro de fora e mais e mais enquanto me viro e vou à casa de banho, n
Era a linha curva e imperfeita seguida de outra e mais outra que lhe desenhavam a cara, mais esculpidas que desenhadas pelo tempo. Havia outras linhas imperfeitas e agrestes que completavam este mapa, a lembrar dores e angústias passadas, mas eram derrotadas no conjunto pelas primeiras, senhoras duma harmonia vitoriosa no meio dos escombros da vida. Em tudo o mais, esta pequena mulher avançada nos anos, parecia vulgar: o cabelo penteado apenas para enganar o abandono, as roupas de cor indiferente e o avental a rodear a anca larga. O andar rápido e laborioso e as mãos ainda maternas mas mecanizadas apenas completavam a figura. O que era extraordinário e contagiava as pessoas é que aquele peão quase anónimo exibia inconscientemente o rosto enrugado como um general cheio de galardões conquistados por mérito. E quando aquela mulher oferecia o olhar a sorrir, parecia que um maestro invisível ordenava uma orquestra de linhas em plena sinfonia, apenas para nosso puro prazer. Era portanto
12. Uma sombra de pássaro penetrou a noite por entre as bestas de betão adormecidas. A cidade ressonava. Pássaro abrupto e anónimo fugindo da madrugada. Noite azul. 11. O braço saiu da penumbra esticando-se ao infinito. O objecto de sedução sorria baixinho ao longe. Num golpe, o corpo contorceu-se e alcançou a meta. De olho esbugalhado e fio de baba pronto, abri as gengivas ao sabor do objecto de silicone. A minha bela chupeta. Uma reviravolta nos olhos, pálpebra pendente e de volta ao sono. Não estava ainda preparado para o dia que ameaçava. Continuava a sonhar a minha certeza infinita de que não só o meu quarto mas também todo o planeta era de peluche multicor. 10. Ainda a noite azul soprando o seu último bafo frio. Na mesma cidade. Sonho colectivo: Uma velhota, o canalizador, o engenheiro de barragens, um centro de terceira idade completo, um piquete de ambulância, meninas e velhinhas, exe
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